Bienal de Veneza 2018: mostra revela muros que o Brasil precisa transpor
Coletivo de jovens arquitetos cria exposição “Muros de ar” no Pavilhão do Brasil na 16ª Bienal de Arquitetura de Veneza 2018
A dupla Yvonne Farrell e Shelley McNamara, do Grafton Architects, divulgou um manifesto, em junho de 2017, elegendo FREESPACE como o tema para a 16ª Bienal de Arquitetura de Veneza. A ideia é que durante a mostra, que ocorre de 26 de maio a 25 de novembro na cidade italiana, os projetos selecionados de diferentes países tragam à discussão a capacidade da arquitetura de mediar a relação entre as pessoas e os edifícios.
O espaço vazio é, portanto, uma das questões relevantes, tanto que as arquitetas mencionam Lina Bo Bardi e a obra do MASP no documento. “Lina Bo Bardi eleva o MASP para criar um mirante a fim de que os cidadãos possam desfrutar da vista sobre a cidade”, exemplificam.
Com esse mote em mente, a curadoria do Pavilhão do Brasil na Bienal de Arquitetura ficou a cargo dos jovens arquitetos Gabriel Kozlowski, Laura González Fierro, Marcelo Maia Rosa e Sol Camacho. Para compor a mostra brasileira, o coletivo optou por realizar alguns chamamentos públicos para formar a ideia de Muros no ar, que tem como objetivo explorar a questão da transposição de fronteiras – materiais e imateriais – do Brasil e de sua arquitetura.
Foram selecionados 17 projetos de regiões diferentes do país (de cerca de 300 inscritos). Cada um deles representa um muro – da arquitetura, da cultura e da identidade brasileira – que os curadores acreditam que precisa ser transposto.
A exposição começa com uma grande sala – que remete ao tamanho continental do país. Ali, estão expostos mapas, divididos em dez temas diferentes. Cada um deles traz os problemas do Brasil em várias escalas e, de maneira gráfica, expõe um aspecto diferente do país e discute o quão livre é a nação.
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Entre os projetos selecionados, está o “Urban Florest”, que vem sendo construído completamente em madeira no bairro da Vila Madalena, em São Paulo (SP). O projeto é uma parceria entre a empresa de florestamento AMATA e o escritório franco-brasileiro Triptyque Architecture. Previsto para 2020, a característica do edifício é o uso misto, isto é, em 13 andares há espaços para co-working, co-living, lojas e restaurantes.
O premiado projeto Moradias Infantis, que reformou toda a escola Fazenda Canuanã, em Formoso do Araguaia (TO), faz parte da mostra. Criado por Rosenbaum com a Aleph Zero Arquitetura, o edifício é de uso misto já que, além dos espaços educacionais, abriga também um alojamento para alunos que moram longe da escola. A iniciativa venceu a categoria Melhor Edifício de Arquitetura Educacional do mundo, da premiação Building Of The Year.
Já o StudioMK27 está representado pelo projeto Praça Infantil Iguatemi, a ser construída em uma área residencial de São Paulo. Com um vazio central, portais de madeira permitiriam que as crianças explorassem, de maneira lúdica, novos espaços neste grande jardim.
O projeto do Sesc Parque Dom Pedro II, criado por Una Arquitetos, está também na exposição. Ainda a ser construída, a proposta faz parte de um plano de revitalização do parque Dom Pedro II, após a demolição do edifício São Vito. O novo edifício, em frente ao Mercado Municipal, complementará a paisagem do centro da capital paulista. Desde 2014, o SESC-SP já ocupa o espaço com uma programação regular ao ar livre.
Mas o projeto do Parque Dom Pedro II não é o único da instituição a fazer parte da mostra Muros de ar. A proposta de expansão da unidade Ribeirão Preto, criada pelos escritórios SIAA e HASAA, está em Veneza. O projeto mantém o edifício histórico do SESC na cidade, amplia as áreas de convivência e investe em grandes volumes vazios e percursos de circulação do público – valorizando a integração do espaço com o entorno.
O Atelier Marko Brajovic também fez parte da curadoria e levou a instalação NSDC, um redesenho para grades das cidades. A peça é dobrada e dialoga que com a questão da segregação e separação que as grades representam. O nome “NSDC”, inclusive, é uma sigla e homenageia a arquitetura cênica de Lina Bo Bardi para a peça “Na selva das cidades” de Bertold Brecht, montada pelo Teatro Oficina nos anos 60. Veja imagens da instalação abaixo.