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Arte e design: como a curadoria tem papel primordial na CASACOR

Mario Costa Santos e Heloisa Amaral Peixoto se uniram para criar dentro da CASACOR Rio 2021 um espaço que exalta a arte em todas as suas versões

Por Nádia Sayuri Kaku
Atualizado em 11 abr 2021, 15h45 - Publicado em 11 abr 2021, 09h00

Quando Mario Costa Santos entrou pela primeira vez no Palacete Brando Barbosa se deparou com a História perante seus olhos: a arquitetura original, os móveis e, principalmente, a coleção de Arte Sacra do casal Jorge e Odaléa Brando Barbosa estavam todos ali, preservados e repletos de significados e valores artísticos. Levar tudo isso ao público era a missão do profissional – e da CASACOR Rio de Janeiro –, mas precisava ser de uma forma original e, acima de tudo, respeitosa com as memórias do local.

Apesar de ser especialista em arte, principalmente por ser filho da pesquisadora Janete Costa, Mario não assumiu sozinho a empreitada e chamou Heloisa Amaral Peixoto, pesquisadora e diretora da galeria de arte H.A.P, para ajudar na curadoria de seu ambiente, que foi batizado de Sala de Arte “Contemplação”.

Heloisa Amaral Peixoto e Mario Costa Santos no ambiente Sala de Arte “Contemplação” da CASACOR RIo de Janeiro 2021
Heloisa Amaral Peixoto e Mario Costa Santos no ambiente Sala de Arte “Contemplação” da CASACOR RIo de Janeiro 2021. (Divulgação/CASACOR)

Uma galeria de arte particular

O espaço de 64 m² tinha um layout difícil: são 11 portas, pé-direito de 5,5 m e somente uma parede livre para ser trabalhada. No entanto, é um espaço nobre: localizada no meio do palacete, a sala era utilizada como porta de entrada pelo casal Brando Barbosa, um local onde recebiam as visitas e de onde os convidados seguiam para o estar ou o jantar.

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O layout conta com 11 portas e um pé-direito de 5,5 m. O piso de mármore original e o teto foram preservados. (Divulgação/CASACOR)

Cinco das portas dão para o jardim, com vista para o chafariz, para a natureza do Rio de Janeiro e até para o Cristo Redentor. Com essa paisagem privilegiada, o espaço não podia funcionar somente como passagem, precisava ser de permanência: do sofá ou da mesa de jantar, a ideia é que se contemple os exteriores, a arquitetura e todas as 37 obras de arte espalhadas.

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Ao fundo, esculturas do Mestre Maurino Araujo. Na estante, as cabeças são de Mestre Irinéia. (André Nazareth/CASACOR)

“Eu quis trazer uma exposição como se fosse dentro de uma casa, não num museu. Então, um quadro pode ficar sobre o outro. Uma obra fica um pouco sobre a outra. A iluminação é de uma casa, não de um museu. Os livros não são decorativos, têm capas e títulos e foram escolhidos por nós”, disse Mario Costa em entrevista para Patricia Mayer, sócia-diretora da CASACOR Rio.

A devoção como linha condutora

O ponto de partida da curadoria foi a fotografia. “É uma arte que chega muito fácil às pessoas”, explica Heloisa. São 16 imagens de diversos autores como Miguel Rio Branco, Pedro Moraes e Paul Vergé. Em contrapartida, só há uma pintura: o quadro de Antônio Poteiro, um dos maiores nomes da arte Naíf no Brasil. E tudo dialoga com o conceito da devoção e da arte, transitando entre peças barrocas, design contemporâneo e cultura popular.

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Na mesa de centro: peças religiosas do acervo original da casa e uma gravura assinada por Keith Haring. (André Nazareth/CASACOR)

Do acervo original da casa, um terço de prata e imagens religiosas são expostas na mesa de centro. O toque irreverente fica por conta da gravura de Keith Haring ali do lado. “Odaléa era espirituosa”, explica Heloisa sobre a escolha.

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As cabeças feitas por Mestre Irinéia ganharam a companhia de cobogós com desenhos de mãos assinados pelos Irmãos Campana. (André Nazareth/CASACOR)

Outra referência religiosa popular são as cabeças feitas por Mestre Irinéia: a ceramista alagoana fez sua primeira cabeça a pedido de um fiel que queria fazer uma promessa a seu santo devoto para curar suas fortes dores de cabeça. A graça foi alcançada e, hoje, Mestre Irinéia esculpe diversas figuras humanas em seu trabalho. Na CASACOR, as cabeças ganharam a companhia de cobogós com desenhos de mãos assinados pelos Irmãos Campana.

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O design como complemento da arte

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(Divulgação/CASACOR)

A única parede livre da sala tem uma vantagem e tanto: recebe luz natural diretamente das janelas que dão pro jardim. Por conta disso, recebeu uma estante de 6 m de comprimento assinada por Jader Almeida que abriga a maior parte das obras. Espaços vazios entre as peças criam respiros. O móvel foi instalado em um painel flutuante para não danificar a parede original da casa – principalmente porque após o término da CASACOR Rio de Janeiro, o palacete vai funcionar como o Instituto Brando Barbosa. O design clean da estante valoriza as peças e até sua escada serve de suporte para um quadro.

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(Divulgação/CASACOR)

Já na área do jantar, a mesa de 3 m é dividida em duas: uma área onde se apoia livros e objetos para consulta, como se fosse num museu. E outra parte que expõe a escultura de madeira assinada pelo artista Véio – repare que até as cadeiras são diferentes em cada seção.

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(Divulgação/CASACOR)

Ao fundo, o mural de Hilal Sami Hilal cria um cenário e chama a atenção para a altura do ambiente. Suspensa sobre a mesa, a árvore de Jorge Mayet também leva o olhar do visitante para cima. As duas peças acabam chamando a atenção também para o teto original da casa – todo trabalhado, é mais uma obra de arte a ser contemplada.

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A árvore supensa de Jorge Mayet ganha o mural de Hilal Sami Hilal como pano de fundo. (Divulgação/CASACOR)

Confira abaixo a entrevista de Mario Costa Santos e Heloisa Amaral Peixoto para Patricia Mayer.

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